We Sea
Conta-se que algures num serão noventeiro insular, um 7-polegadas do Vapor da Madrugada dos Rimanço foi metido a rodar num gira-discos mas que, por descuido do utilizador, foi reproduzido com a velocidade desacelerada. Em torno desta nova visão do tema, de ritmo lentificado e com a voz mais encorpada, formou-se um apego obsessivo pelo glitch melancólico, uma autêntica cisma, que deu origem a toda uma nova estética musical. Foi neste espaço que Clemente Almeida e Rui Rofino (WE SEA) começaram a mover-se pela vivência do arquipélago carregada por um dial-up modem trêmulo, pelas memórias de concertos gravados em cassetes sem rótulos e pelo regenerar dos sons de Rómulo San-Bento e Pedro Rodrigues pristinamente arquivados em disquetes desde os tempos do secundário. Do Brian Eno saiu a Música para Aeroportos. Dos WE SEA sai Música para Piscina Interiores; Música para descer escadas rolantes e para a fila do Euromotas. Música para ouvir no autocarro naquele início de setembro. E música para aquela transição entre programas do fim-da tarde na nossa emissora pública regional.